quarta-feira, 9 de março de 2011

Pra ver se eu te encontro.

Trago o maldito cigarro que ainda permanece nos meus dedos já amarelos, era o último daquela carteira toda amassada que me acompanhava pelas ruas e fazia companhia aos meus dedos trêmulos em meio a tanto desespero. O último gole de uísque. Desce queimando, porém é quase imperceptível comparado a dor que clama por mais uma dose. O relógio já marca duas e pouco da madrugada e eu deveria dormir. Deito-me, me levanto. Caminho pela casa, sala, cozinha, quarto, são tão vazios sem você. Encontro-te à uma hora e meia de distância entre o meu orgulho e a solidão. Corro pra tentar te alcançar - é quase em vão. Você está longe, fazendo silêncio na madrugada, escutando o radinho ligado em uma FM qualquer. Eu, que sempre pedi para que você desligasse o rádio, hoje insisto em deixar o meu ligado só pra ver se um dia te encontro de novo. Eu, que um dia reclamei das suas roupas jogadas pela casa e da sua falta de organização, não encontro uma peça limpa dentro do guarda-roupa.
O último cubo de gelo permanece no copo suado, manchado do batom que você não arrancou dos meus lábios. Ele derrete tão mais lento do que quando meu coração se fez em chamas pra te receber. O relógio apita. Uma. Duas. Três vezes. Shhh... Faz silêncio agora. Deixa o rádio tocar porque sou eu quem precisa de descanso agora.