segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Chega, eu vou pra casa agora. Cansei de ser quadro da tua parede e te observar enquanto você entra e sai, sem saber pra onde vai, acompanhado com alguns amores que, sabe-se lá quando, deixou de ser amor. Amor? Eu sei bem o que é isso, cara.
Então me vê mais uma dose, não de amor, eu quero algo que rasgue essa garganta, que desça rasgando, ardendo, machucando tudo que ainda não está machucado, porque estou cansada de sentir dor sempre no mesmo lugar, sempre ali, onde você consegue alcançar. Você se importa se eu tirar a roupa agora? Claro que não, cara, eu sei, você nem se importa se eu cair bêbada aqui ou vomitar naquele tapete importado que sua mãe te deu - de péssimo gosto, aliás. Mas, calma, não sou de vomitar na casa alheia, talvez por vergonha, mas me conheço bem, sei até onde posso aguentar, mas se fosse você, ah, se fosse você que se aproximasse e falasse “Quer mais um pouco?”, seja lá do que for, aceitaria na hora, sem pensar. Poderia estar me oferecendo até cocaína, você sabe que não sou chegada nisso, mas aceitaria. Posso sentar nesse sofá? Por Deus, cansei de me segurar aqui, na parede, porque é o único lugar que parece me aceitar bem nessa casa, claro, os enfeites mais bonitos ficam aqui, não? Cara, o que você tem feito? Não para em casa mais, não me nota aqui, sempre parada. Sabe o que é isso? Cara, olha pra mim, você sabe que caralho é isso? Isso é rotina. Você caiu nessa rotina desgraça dessa sua vida fuleira de quem não sabe pra onde ir. Não minta, sempre notei suas mãos tão trêmulas quando conversávamos sobre o futuro. Você sabe o que é isso? Aquilo que estávamos combinando, sabe, de irmos juntos para algum lugar bem longe, isso é um plano, plano para o futuro. Está se lembrando agora de tudo que me prometeu? Ah, que ótimo, cara, então entre por essa maldita porta e me tira daqui. Me tira, porque eu cansei. Cansei de esperar. Cansei de ficar aqui. Cansei de beber. Eu quero mudar. Mudar. Sei lá, mudar tudo. Mudar o que eu sou agora. Mudar o que nós nos tornamos. Mudar tudo isso que a gente ainda se atreve a chamar de relacionamento. Céus… Que diabos de relacionamento é esse? Eu aqui, você ai, eu te vejo com algumas mulheres enquanto eu paro, porque simplesmente não sei desejar outro cara, e sinto nojo da maior parte deles, porque eles não são você. Porque não existe outro cara assim, feito você, no mundo. Eu sai um dia daqui, disposta a encontrar, disposta à andar. Pode dar risada. Ah, você pode, cara, porque eu também dei risada de mim mesma. Foi a coisa mais idiota que eu poderia ter feito. Mas então eu voltei, voltei pra cá pra ser teu quadro, teu enfeite. Voltei com um cigarro torto entre os dedos e uma garrafa de vodca. Voltei pra assistir você ser feliz… Porque, quem sabe assim, eu também consiga ser feliz.